Fanzines de José Pires (Outubro 2017)

No início deste mês, José Pires lançou mais um volume da série Terry e os Piratas, que está a reeditar por ordem rigorosamente cronológica, numa homenagem ao mestre Milton Caniff sem paralelo no nosso país. Basta recordar que esta extraordinária série de aventuras, criada em 22/10/1934, só se estreou n’O Mosquito em 1952-53, portanto já na fase em que era desenhada por George Wunder, cujo estilo, sem grandes rasgos de inspiração, se limitava a ser fiel ao de Caniff.

Com o fim d’O Mosquito, a sua publicação prosseguiu no Titã e no Mundo de Aventuras, onde passou quase despercebida. As tiras originais com o 1º episódio só surgiriam na 2ª série do MA, em 1975. Mais tarde, o jornal Público publicou também alguns episódios.

Como se vê, Terry e os Piratas, apesar da sua enorme popularidade e de ser considerada uma obra-prima da época de ouro dos comics norte-americanos, nunca teve entre nós a projecção que merecia. O FandClassics veio finalmente, por obra de José Pires, preencher essa lacuna… e já vai no 10º episódio!

Este mês, José Pires editou também um novo episódio de Matt Marriott, uma das melhores séries western dos anais da BD, graças à mestria gráfica  de Tony Weare, um artista inglês apaixonado pelo tema, que desenhou a série durante mais de 20 anos, com a colaboração do argumentista James Edgar, chegando mesmo a viajar até aos Estados Unidos, para percorrer de carro, durante longos meses, as regiões onde se desenrolavam as aventuras do seu herói!

É de inteira justiça reconhecer que nenhuma outra série abordou com tanta autenticidade a história do Oeste americano, durante a época da colonização, em meados do século XIX, compondo uma vasta galeria de personagens que dão digna réplica aos dois protagonistas, Matt Marriott e Powder Horn, incansáveis vagabundos que percorrem o Oeste em busca de trabalho, evitando armar sarilhos, mas sempre prontos a defender a honra e a justiça de colt em punho quando confrontados com malfeitores da pior espécie. E não há dúvida que nesta série a justiça vence sempre! 

Mas a “cereja em cima do bolo” é mais um número do Fandaventuras, o mais antigo fanzine de José Pires ainda em circulação, também dedicado, desta vez, ao Oeste americano — mas de uma época histórica mais remota e não menos sanguinária, tal como foi magistralmente descrita por James Fenimore Cooper, um pioneiro da literatura norte- -americana cuja celebridade galgou fronteiras com o romance O Último dos Moicanos, editado em 1826.

Adaptada várias vezes ao cinema e à banda desenhada, além de ter dado origem a algumas séries de televisão, esta obra não perdeu até hoje o irresistível fascínio que se desprende das suas carismáticas e trágicas personagens, entre as quais avultam o caçador de gamos Olho de Falcão e os seus companheiros índios Chingachgook e Uncas, últimos descendentes da nobre raça dos Moicanos.

Publicada nos anos 1970 pela revista Look and Learn — com desenhos de Cecil Langley Doughty, um dos mais notáveis artistas ingleses do seu tempo, colaborador de diversas revistas juvenis, e textos de David Ashford, que se encarregou da adaptação —, esta versão copiosamente ilustrada d’O Último dos Moicanos tem a particularidade de seguir a linha narrativa do romance, em moldes arcaicos, com legendas, preferindo estas à linguagem mais arejada dos balões. Mas não deixa, por isso, de ser uma bela história!

Estes fanzines (de tiragem bastante limitada) podem ser encomendados a José Pires através do e-mail gussy.pires@sapo.pt

O mundo mágico de Harry Potter em exposição na British Library

Artigo publicado no Diário de Notícias, edição de 23 de Outubro p.p., de onde o reproduzimos, com a devida vénia.

Y, O Último Homem – Vol. 2

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Amadora BD 2017 – um Festival que tem por tema a reportagem

O Amadora BD está de novo em destaque, no final deste mês de Outubro (é oficialmente inaugurado hoje, sexta-feira, dia 27, no Fórum Luís de Camões, e encerra em 12 de Novembro), apresentando um programa subordinado ao tema “A Reportagem na Banda Desenhada”.

Pontos fortes: a exposição dedicada a Nuno Saraiva, autor da obra Tudo Isto é Fado, prémio de Melhor Álbum Português em 2016 (da sua autoria é também o “populoso” cartaz do Festival, acima reproduzido); e as exposições evocativas: O Espírito de Will Eisner Jack Kirby – 100 anos de um Visionário, em homenagem a dois “monstros sagrados”, ambos já centenários, pelo extraordinário contributo que deram a um dos meios de expressão mais dinâmicos do nosso tempo, revolucionando graficamente a forma de contar histórias.

Reproduzimos também um artigo publicado no semanário Expresso de 21 do corrente mês, que complementa esta breve informação sobre o Amadora BD 2017 — e aconselhamos os mais interessados a consultar o blogue Divulgando Banda Desenhada, onde Geraldes Lino acompanha o programa do Amadora BD com a sua hábil faceta de repórter.

    

O eterno comissário Maigret

(Artigo de João Gobern publicado no Diário de Notícias de 23 de Outubro p.p., de onde o extraímos com  a devida vénia).

Recorde-se, a propósito, que várias dezenas de títulos de Simenon, com a sua mais célebre criação, foram publicados pela Livros do Brasil, na popular Colecção Vampiro (renascida há um ano com a chancela da Porto Editora), pela Bertrand, numa série com 49 volumes dedicada a Maigret, e posteriormente pela ASA.

“Maigret e o Seu Morto”, editado agora pela Relógio d’Água, surgiu pela primeira vez, em tradução portuguesa, no volume 65 da Colecção Vampiro (Agosto 1952), cuja capa, assinada por Cândido Costa Pinto, um dos melhores ilustradores portugueses, a seguir reproduzimos.

A Vampiro publicou vários episódios da carreira de Maigret entre os volumes 53 e 145 (Agosto 1951 a Maio 1959), retomando a série com mais firme regularidade a partir do volume 386 (Agosto 1979).

Embora as mais antigas edições portuguesas remontem à década de 1930 (Livraria Clássica Editora e Empresa Nacional de Publicidade), foi incontestavelmente a icónica Vampiro que mais espaço dedicou ao fleumático comissário parisiense, cujo cachimbo (um legado de Simenon) se tornou a sua imagem de marca.

O êxito mediático deve-se ao cinema e à televisão, onde um selecto grupo de actores (com destaque para Jean Gabin, como lembra João Gobern) lhe deu um rosto humano, uma voz e um corpo, multiplicados por vários registos, que consolidaram no culto dos espectadores o cânone original. Rowan Atkinson (o célebre Mr. Bean do cinema inglês) é o mais recente desses intérpretes, numa série produzida pela ITV. 

Sérgio Godinho e o elixir da eterna juventude

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Postais ilustrados de outros tempos – 4

Eis, como anunciado, mais quatro postais com trajos típicos de várias regiões do nosso país, inseridos numa colecção do Museu de Ovar, realizada pelo mestre aguarelista Alfredo Januário de Morais (1872-1971), um dos mais activos “trabalhadores” das artes gráficas portuguesas do século XX, exímio na tarefa de ilustrar fascículos populares e romances de aventuras, que foram lidos por milhares de jovens e atravessaram gerações.

É quase impossível calcular o número de capas e de outros trabalhos ilustrados, a cores e a preto e branco, que Alfredo de Morais pródiga e dinamicamente espalhou por jornais, revistas, livros, folhetos, postais, estampas, histórias aos quadradinhos, num exemplo paradigmático do artista que lutava contra a mediania e as fracas recompensas económicas do seu meio, trabalhando sem desânimo até uma idade bastante avançada.

A corrida mais louca de Astérix – entrevista com os autores Ferri e Conrad

Entrevista aos novos autores de Astérix publicada no jornal Público, edição de 19/10/2017, que reproduzimos com a devida vénia.

“From Scotland with love” – uma bela homenagem às virtudes do desporto e ao país de Sir Walter Scott

Quando se tem mais de 80 anos e ainda se pratica desporto — mormente um dos mais exigentes, as corridas pedestres de longo curso —, mantendo ao mesmo tempo em exercício, de forma brilhante, as “células cinzentas”, estamos perante um caso — não diremos único, mas quase raro — de invejável afirmação de vitalidade física e intelectual!

E esse caso, para o tema deste texto, tem um nome… o do nosso querido Amigo António Martinó de Azevedo Coutinho, hoje, como é óbvio, já retirado da sua profissão de Professor — que exerceu em Portalegre, sua terra natal, e noutros lugares, durante muitos anos — mas continuando a dar o exemplo de empenhada intervenção cívica e cultural, através do seu magnífico blogue Largo dos Correios (que tem sido uma das nossas principais referências, desde que nos aventurámos também no buliçoso universo da blogosfera).

Actualmente a residir em Peniche, mais perto da família, António Martinó começou a correr há poucos anos, integrado num grupo amador penichense que o acolheu de braços abertos, surpreso, de início, com a sua teimosia e perseverança, mas rendido em breve ao poder da sua vontade e aos seus incríveis dotes físicos e anímicos, que rapidamente o guindaram a um lugar de mérito entre os veteranos membros desse numeroso e unido grupo: Peniche a Correr.

Resumindo: até hoje, o professor António Martinó já participou em várias corridas, tanto a nível interno, isto é, em Peniche, como no exterior, particularmente na famosa Maratona do Sporting (clube de que é ferrenho adepto), classificando-se sempre em posições honrosas e destacando-se por ser um dos mais idosos atletas nessas competições.

Durante a sua vida, marcada também por provas difíceis, o professor Martinó sempre se distinguiu pela probidade, pela inteligência, pelo espírito de lutador, pelo apego às suas causas (e foram muitas!), pelo amor aos valores da cultura e da família, pelos afectos sinceros e sem preconceitos, pela fidelidade aos princípios cultivados desde a infância, na esteira de alguns dos seus ilustres antepassados, pela forma frontal e corajosa de encarar o futuro, mesmo quando a adversidade lhe bateu à porta. Curso de vida nada modesto… digno de alguém que atravessou várias épocas e lidou de perto com várias gerações, no exemplar desempenho de uma pedagógica missão que sempre considerou sagrada.

Dois António de Azevedo Coutinho em Inverness (Escócia): pai e filho junto de uma réplica da célebre Nessie

Muito recentemente, este nosso bom e leal Amigo, a cujas lições recorremos também com frequência, resolveu testar os seus admiráveis recursos físicos numa nova prova, ainda mais difícil, já não em Portugal mas no estrangeiro, alcançando assim um comprovativo (e uma medalha!) de desportista interna- cional com que, em tempos ainda próximos, nunca certamente se atrevera a sonhar. Foi na Escócia, numa tradicional corrida de 10 km ambientada num dos míticos e fascinantes lugares de que o país de Walter Scott e Robert Louis Stevenson está recheado… com notoriedade para o Loch Ness, em cujas cercanias (Inverness) essa famosa corrida se realizou, no passado dia 24 de Setembro.

Participaram milhares de atletas, de várias nacionalidades, e mais uma vez o nosso dedicado professor (neste caso, de cultura física!) fez uma boa prova, classificando-se notavelmente a meio da tabela… isto é, muito perto do Bom +. É caso, como já o fizemos em devido tempo, para lhe dar calorosamente os parabéns em nome de quantos, como nós, seguem com admiração e inveja (!) as suas proezas atléticas, quase incrédulos por o ver superar tantas etapas, tantos desafios, com uma fasquia cada vez mais alta… e em tão pouco tempo!

No Largo dos Correios, o professor Martinó começou, logo após o seu regresso, a desfiar as recordações dessa viagem às verdejantes terras da Escócia, partilhando com os leitores a indizível emoção que sentiu ao deambular, pela primeira vez, nas ruas de Edimburgo (que o fizeram mergulhar noutro mundo, como que copiado a papel químico de uma novela de Charles Dickens!), e a que o assolou ao ver-se no meio de tantos concorrentes, a grande maioria muito mais novos do que ele (incluindo um casal português), ou ao contemplar as águas profundas de um imenso lago onde era pouco provável avistar-se o vulto de um misterioso e furtivo monstro marinho… que há muito se nega a aparecer aos íncolas e aos turistas!

Os nossos leitores podem apreciar os textos e as imagens dessa aliciante reportagem no Largo dos Correios, mas para já convidamo-los a tomar um “aperitivo”, isto é, a saborear o trecho seguinte — extraído, com a devida vénia, da mesma série —, em que António Martinó evoca sugestivamente os “fantasmas” da Escócia, relacionando-os com o fervor revivalista que lhe inundou de chofre a alma ao ressuscitar, logo à chegada, outros “duendes” que povoaram a sua infância, saídos das páginas de revistas tão emblemáticas, para ele e para muitos de nós, quanto o “monstro” de Loch Ness: o Diabrete, O Mosquito, O Papagaio, o Cavaleiro Andante.

Boa leitura… e façam o favor de continuar a seguir a reportagem que o professor Martinó está a publicar no Largo dos Correios.

Por António Martinó de Azevedo Coutinho (4ª parte)

Funciono muito por imagens. Aliás, isso foi extremamente significativo na minha própria vida profissional, onde as imagens tiveram lugar privilegiado.

Na recente ida à Escócia, particularmente quanto a Edinburgh e ao Loch Ness, isso esteve presente. Nem sequer o escondi, quando previamente citei as memórias pessoais com Tintin, ainda que ligeiramente ficcionadas.

Sabia, de antemão, que a Escócia é um lugar de encanto. E de encantamento. Nas paisagens urbanas como nas rurais, isso é ostensivamente patente, mete-se pelos olhos e pela alma adentro.

Edinburgh, primeiro lugar da escala escocesa, depois da “monstruosidade” do londrino aeroporto de Heathrow, é uma cidade admirável que cativa à primeira vista. A sua história e a sua identidade manifestam-se em absoluta coerência na mistura da modernidade com os indeléveis traços do passado, numa uniformidade que espanta os mais desprevenidos. Não há ali notas dissonantes no equilíbrio dos volumes, das tonalidades e das atmosferas. O Outono deve ser a estação ideal para a valorização cromática dos verdes, castanhos e dourados de Edinburgh.

Estendida sobre sete colinas, como Lisboa, a cidade nasceu e desenvolveu-se em torno do majestoso e imponente castelo, autêntico símbolo da identidade nacional escocesa, formando a Old Town e a New Town. A primeira caracteriza-se por uma rede de ruelas, passagens cobertas e pátios medievais e também de avenidas, como a majestosa Royal Mile, enquanto a segunda foi projectada e realizada no século XVIII, segundo os princípios urbanísticos do neoclassicismo em vigor na época, ainda que aqui sujeito à versão georgiana, de tipo britânico. As igrejas, as mansões e os espaços verdes abundam em todo o burgo.

Nas ruelas de Old Town o tempo parece ter parado. (Em nota intercalar que dá para perceber como por ali nos embrenhámos, bastará dizer que percorremos a pé, num só dia em Edinburgh, perto de vinte quilómetros… num excelente treino de marcha para a corrida!) Aqui funcionaram — e de que maneira! — as tais memórias (ou ficções) icónicas acumuladas desde a infância, sobretudo com base — imagine-se! — no saudoso Diabrete. E, depois, noutras colecções similares…

Foi naquele saudoso jornal de quadradinhos que, nos distantes anos 40 e 50 do passado século, li pela primeira vez, adaptadas em texto-folhetim ou em banda desenhada, obras de Robert Louis Stevenson, Arthur Conan Doyle ou Walter Scott. Por coincidência ou talvez não todos estes autores nasceram — em diversas épocas — na cidade de Edinburgh. Registe-se.

Confesso, por isso, ter esperado em diversas oportunidades que Sherlock Holmes e o seu fiel companheiro Dr. Watson espreitassem por detrás das cortinas de uma daquelas misteriosas janelas de Holyrood, que Ivanhoe desfilasse a cavalo por Victoria Street fora, que os clãs de Rob Roy ou de Quentin Durward em tropel atravessassem Charlotte Square ou Stockbridge, que as sombras inquietantes do Dr. Jekyll e de Mr. Hyde saltassem de uma esquina perdida em Canongate, que os ébrios piratas da Ilha do Tesouro tumultuosamente desembarcassem no porto de Leith. Em vão…

Porém, devo confessá-lo, foram as personagens de outro “monstro” literário — Charles Dickens, por mero acaso não nascido em Edinburgh — que mais ainda me pareceram adequadas ao cenário. Nas estreitas e labirínticas ruelas e nos becos da Old Town, como nas suas passagens escuras desembocando em asfixiantes e altos pátios, entre Castlehill e Lawnmarket, ou de Beehive Inn a Grassmarket, esperei a cada passo encontrar os irrequietos David Copperfield e Oliver Twist ou o tenebroso Ebenezer Scrooge

Se me apetecesse dar a volta a estes pesados pensamentos, encontraria na minha bagagem de memórias icónicas outros pretextos familiares, mais tranquilos, igualmente próprios do contexto. É que foi precisamente no miserando Mr. Scrooge que o desenhador Carl Barks, dos estúdios do mago Walt Disney (cá volto aos bonecos!), se inspirou para criar o imortal e severo Tio Patinhas. Tio PatinhasScroogge McDuck, de nome de baptismo, em 1947 — tem ascendência escocesa, convém a propósito lembrá-lo, na família dos Mac Patinhas, riquíssimo clã do qual bem se conhecem, entre outros, os célebres membros Fergus Mac Patinhas e sobretudo sir Mac Trovão.

E que tal trazer à liça o celebérrimo e irredutível gaulês, de quem há escassos anos se conheceram proezas acontecidas pelas terras verdes da Escócia, em Astérix entre os Pictos? Depois, como é fácil chegar a um cidadão de carne e osso dos mais conhecidos, entre os modernos escoceses, Sean Connery de seu nome, agente James 007 Bond ou pai de Indiana Jones!? Também é natural de Edinburgh, para que se saiba.

Paro por aqui nesta deambulação, quase interminável, porque o objectivo era falar da cidade. Vou lá voltar, no entanto, com a absoluta consciência — ou íntima convicção — de que não cheguei a sair dela…

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Y, O Último Homem – Vol. 1

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