Aqui está a segunda folha de um belíssimo calendário com pinturas de Mário Costa (1902-1975) sobre assuntos históricos — que, como referimos no post anterior desta rubrica, são o exemplo da aliança, que por vezes dá bons frutos, entre a criação artística e a propaganda comercial. Temos mais cinco para vos apresentar (porque infelizmente faltam-nos alguns meses deste calendário).
Artista multifacetado, Mário Costa distinguiu-se sobretudo como ilustrador em várias publicações periódicas, nomeadamente da imprensa infanto-juvenil, como O Senhor Doutor, o Rim-Tim-Tim, o Pim-Pam-Pum e o Tic-Tac. Com um estilo equilibrado, a preto e branco, fiel a alguns dos cânones estéticos mais modernos da época (mesmo sem ser um artista de vanguarda), deixou uma impressão indelével no espírito de muitos leitores desses títulos emblemáticos.
No que toca à minha experiência pessoal, recordo-me perfeitamente do fascínio que me causaram as ilustrações da novela “O Filho do Faroleiro”, publicadas com a sua assinatura n’O Mosquito, em 1946, e que — como vim a saber mais tarde — eram provenientes d’O Senhor Doutor, onde essa emocionante novela, da autoria de António Feio, surgiu pela, primeira vez, em 1938. Mas é a sua obra noutro domínio que quero agora realçar, oferecendo-vos um dos mais perfeitos exemplos que conheço do seu talento pictórico, aliado a uma inegável paixão pelos temas e pelas figuras mais célebres da nossa História.
Neste caso, trata-se de evocar a memória da Rainha Santa Isabel e da sua intervenção, como mensageira da paz, nas contendas entre o Rei D. Dinis e o seu primogénito, o príncipe herdeiro D. Afonso, impedindo que se travasse uma cruenta batalha, de incerto desfecho, nos campos de Alvalade (corria, agitada para a pátria portuguesa, a Primavera do ano de 1323).